sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Resenha - Loney, de Andrew Michael Hurley

Sinopse
Quando os restos mortais de uma criança são descobertos durante uma tempestade de inverno numa extensão da sombria costa da Inglaterra conhecida como Loney, Smith é obrigado a confrontar acontecimentos terríveis e misteriosos ocorridos quarenta anos antes, quando ainda era criança e visitou o lugar.
À época, a mãe de Smith arrastou a família para aquela região numa peregrinação de Páscoa com o padre Bernard, cujo antecessor, Wilfred, morrera pouco tempo antes. Cabia ao jovem sacerdote liderar a comunidade até um antigo santuário, onde a obstinada sra. Smith crê que irá encontrar a cura para o filho mais velho, um garoto mudo e com problemas de aprendizagem.
O grupo se instala na Moorings, uma casa fria e antiga, repleta de segredos. O clima é hostil, os moradores do lugar, ameaçadores, e uma aura de mistério cerca os desconhecidos ocupantes de Coldbarrow, uma faixa de terra pouco acessível, diariamente alagada na alta da maré. A vida dos irmãos acaba se entrelaçando à dos excêntricos vizinhos com intensidade e complexidade tão imperativas quanto a fé que os levou ao Loney, e o que acontece a partir daí se torna um fardo que Smith carrega pelo resto da vida, a verdade que ele vai sustentar a qualquer preço.
Com personagens ricos e idiossincráticos, um cenário sombrio e a sensação de ameaça constante, Loney é uma leitura perturbadora e impossível de largar, que conquistou crítica e público. Uma história de suspense e horror gótico, ricamente inspirada na criação católica do autor, no folclore e na agressiva paisagem do noroeste inglês.

Crítica
Para início de conversa admito a vocês que demorei um tempo para escrever a resenha de "Loney", romance de estreia de Andrew Michael Hurley, não porque não tivesse tempo, (tá bom, a falta de tempo também contribuiu) mas porque estava tentando "absorver" a leitura, que se revelou um experiência bastante singular.


Todo o merchandising envolto ao lançamento de "Loney" só fizeram criar expectativas em cima de expectativas nos leitores, principalmente os que curtem a combinação mistério/suspense como eu. Sem contar que a editora Intríseca está de parabéns quanto ao design do livro com uma jacket (a capa de papel) que de cara nos transporta ao universo tenebroso do Loney, assim como a capa dura toda preta que lembra um livro antigo de mistério.  Toda essa composição fez com que"Loney" se tornasse o queridinho do momento, dividindo opiniões entre o público.

"Embora pudesse parecer enfadonho e sem atrativos, o Loney era um lugar perigoso. Uma porção indômita e inútil do litoral inglês". (pág 13)


A narrativa de "Loney" é em primeira pessoa contada pelo jovem conhecido como Tonto, filho de uma família inglesa tradicionalmente cristã. A cronologia é divida entre presente e passado. Primeiro Tonto já é um adulto e revive os acontecimentos que ocorreram no passado, na década de 70, quando, juntamente com seu irmão mais velho, Hanny, seus pais, o novo pároco da igreja, além de alguns membros da comunidade a qual eles frequentam, se organizam para um retiro de Páscoa num local considerado "milagroso" e também perigoso, conhecido como Loney.

"Se o lugar tinha outro nome, eu nunca soube, mas os moradores chamavam-no de "Loney" - um estranho pedaço de lugar nenhum entre os rios Wyre e Lune, aonde Hanny e eu íamos toda Páscoa com a Mamãe, e o Papai, o sr. e a sra. Belderboss e o padre Wilfred, o sacerdote da paróquia". (pág 13)


Acontece que o irmão mais velho de Tonto é surdo-mudo e seus pais sempre buscaram uma forma de tentar reverter esse quadro, mas precisamente sua mãe, a Sra. Smith, que bem lá no fundo sempre esperou que um milagre acontecesse. Ela acreditava fervorosamente que o "Loney" era um lugar sagrado que poderia curar seu filho. Por isso toda Páscoa eles estavam lá, reunidos em oração e seguindo os rituais para que Hanny voltasse a falar.

“— A Mamãe quer o seu bem — falei. — Ela só está preocupada, com medo de que você não melhore. E o medo pode levar uma pessoa a fazer coisas esquisitas, sabe?”

Uma personagem que me irritou desde o começo da história foi a Sra. Smith. Sabe aquela cristã fervorosa que chega a ser insuportável? Pois é. Mas, um dos pontos que me chamaram a atenção neste livro foi a complexidade dos personagens, principalmente a Sra. Smith. Cada um deles tinham seus próprios medos e segredos. Andrew soube muito bem retratá-los. Até mesmo Tonto e Hanny, que na época eram crianças, e em sua inocência só queriam saber de se divertir e explorar o lugar, sem saber que isso os levaria a algo que marcaria suas vidas para sempre. 

“Ele havia compreendido o que eu já sabia sobre a Mamãe fazia um bom tempo — que se alguma coisa cedesse, se algum ritual deixasse de ser cumprido ou algum método fosse abreviado por conveniência, então a fé dela desmoronaria e se reduziria a estilhaços. Acho que foi aí que ele começou a sentir pena dela.”


O livro é um terror psicológico que meche com nossa imaginação. Tudo fica implícito e acho que foi isso que desagradou muitos leitores. Quando você acha que algo vai acontecer na verdade não acontece. A história é cheia de altos e baixos e com muitos, muitos diálogos - desnecessários no meu ponto de vista - que só tornaram a leitura cansativa. Foi nesse ritmo que cheguei ao final da história esperando por algo que salvasse tudo, mas... é melhor parar por aqui senão acabarei soltando spoilers. 

"Porém, como eu tinha um talento especial para perceber a verdade sobre tudo, sabia que havia algo além disso. Havia algo de muito errado" (pág 20)

Acho que foi por isso que "Loney" rendeu tantos prêmios ao autor. Por ser diferente. Por sair da zona de conforto. Por proporcionar uma experiência de leitura única. Sem contar que para um romance de estreia, Andrew se saiu muito bem. É perceptível que o autor tem um a escrita madura, que por sinal me lembrou os romances de Stephen King. 

"É engraçado, não é? como vocês da igreja têm mais fé em algo que não pode ser provado do que em alguma coisa que está bem na sua frente? Acho que tudo se resume a uma questão de ver o que a gente quer certo? Mas, às vezes você não tem opção. A verdade aparece querendo ou não". (pág. 251)



No mais, eu recomendo a leitura para que tirem suas próprias conclusões. Ou você vai gostar, ou vai odiar. Não é à toa que "Loney" vem dividindo opiniões. Como falei no início da resenha eu precisei de um tempo para formular a minha e não ser injusta, até porque "Loney" é uma história para ser lida de mente aberta e na época eu só julgava a leitura devido às minhas expectativas. E é esse o conselho que dou a vocês: não criem tantas expectativas numa leitura. Apenas se deixem levar e deixem ser surpreendidos. Isso é o que tem de mais legal para quem gosta de ler. 

"Hanny saiu da sala de jantar e agarrou meu braço, querendo que eu abrisse a porta. Aos poucos, todos se reuniram no corredor e nós ouvimos a cantoria vindo do lado de fora" (pág 195)

Até a próxima pessoal! Bjs!

Ficha Técnica
Título Original: Loney
Título em Português: The Loney
Autor: Andrew Michael Hurley
Editora: Intríseca
Ano: 2016
Páginas: 304
Gênero: Ficção Inglesa/Mistério/Suspense


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