domingo, 2 de outubro de 2016

Eu estive aqui, de Gayle Forman

Sinopse
Quando sua melhor amiga, Meg, toma um frasco de veneno sozinha num quarto de motel, Cody fica chocada e arrasada. Ela e Meg compartilhavam tudo... Como podia não ter previsto aquilo, como não percebera nenhum sinal? A pedido dos pais de Meg, Cody viaja a Tacoma, onde a amiga fazia faculdade, para reunir seus pertences. Lá, acaba descobrindo muitas coisas que Meg não havia lhe contado. Conhece seus colegas de quarto, o tipo de pessoa com quem Cody nunca teria esbarrado em sua cidadezinha no fim do mundo. E conhece Ben McCallister, o guitarrista zombeteiro que se envolveu com Meg e tem os próprios segredos. Porém, sua maior descoberta ocorre quando recebe dos pais de Meg o notebook da melhor amiga. Vasculhando o computador, Cody dá de cara com um arquivo criptografado, impossível de abrir. Até que um colega nerd consegue desbloqueá-lo... e de repente tudo o que ela pensou que sabia sobre a morte de Meg é posto em dúvida. Eu estive aqui é Gayle Forman em sua melhor forma, uma história tensa, comovente e redentora que mostra que é possível seguir em frente mesmo diante de uma perda indescritível.

Crítica
"Eu estive aqui" é o terceiro livro de Gayle Forman que tive a oportunidade de ler. "Se eu ficar" e "Para onde ela foi" não foram romances que me surpreenderam, por isso não era fã de carteirinha da autora até então. Mas, a forma como Gayle abordou o tema central do livro, que por si só é bastante delicado, me chamou bastante a atenção. Um tema complexo com uma narrativa leve e descontraída.

Em "Eu estive aqui", Gayle Forman retrata a depressão e o suicídio na juventude. Cody é a protagonista desta história e também a narradora. Uma jovem de 19 anos de uma cidade do interior dos EUA.  Ela e Meg são melhores amigas. Ou eram. A questão é que Meg se suicidou sem maiores explicações. Simplesmente, do nada, ela tomou um frasco de veneno industrial e "pegou o ônibus" rumo à morte. O que deixou Cody sem chão. 


"Eu conhecia Meg desde o jardim de infância. Éramos melhores amigas, quase irmãs. Por quanto tempo ela adiou a decisão sem me contar? E o mais importante: porque ela não me contou?" (pág. 13)

Cody e Meg, desde crianças, faziam planos. Elas terminariam o ensino médio, iriam para a mesma faculdade e sairiam daquela cidadezinha medíocre. Só que os planos deram errado. Foi Meg quem conseguiu uma bolsa de estudos para uma faculdade de prestígio e foi embora primeiro. Cody teve que ficar e continuar juntando dinheiro trabalhando com faxinas para poder se bancar quando fosse embora também, algo que ela já duvidada que um dia fosse acontecer.

"Portanto, continuo limpando casas. Talvez seja melhor assim. Banheiros são anônimos. Não têm histórias para contar, nenhuma recriminação para jogar na sua cara. É só limpar a merda e dar descarga." (pág. 85)

Umas das coisas que me fizeram gostar da história foi o fato da vida da protagonista ser uma droga. Isso mesmo. Cody não é uma mocinha qualquer e sua vida está bem longe de ser um conto de fadas. Ela tem personalidade forte, fala palavrão, nunca conheceu o pai, sua mãe não sabe "ser uma mãe", nunca foi uma das melhores alunas do colégio e por isso não foi pra faculdade e continua morando na mesma cidadezinha do interior limpando a privada das casas de seus próprios vizinhos. E pra fechar com chave de ouro sua única e melhor amiga - aquela que Cody mais admirava e que iluminava sua vida, que de certa forma era seu porto seguro -  que tinha tudo pra ter um futuro privilegiado, além de uma família que a amava e a apoiava, tirou a própria vida sem contar nada  a ninguém. Tudo isso só fez com que a personagem de Cody se tornasse tão real e próxima a todos nós. 


"Meg era minha melhor amiga e eu achei que nós fossemos tudo uma para outra. Achei que contássemos tudo uma para outra. Mas, no fim das contas, eu não a conhecia nem um pouco (...) Então, por favor, não me perguntem sobre Meg. Porque eu não sei merda nenhuma sobre ela." (pág. 49)

Gayle conseguiu criar uma protagonista forte, mas com uma lado sensível também. Apesar de toda aquela "casca" há alguém que sofre muito por tudo o que está acontecendo e que queria, do fundo do coração, que tudo fosse diferente. Por isso não é frequente ver Cody lamentando a morte de sua melhor amiga. O que é perceptível em todo o enredo é o sentimento de culpa, a busca por respostas e a não-aceitação. É toda uma carga emocional que a autora soube, brilhantemente, retratar no livro. 

"Porque não sei o que Meg me contou e eu ignorei, e o que não me contou. Se tem uma coisa que sei é que ela não me contou que estava sofrendo tanto que a única maneira de acabar com a dor era encomendar uma dose de veneno industrial e mandá-lo goela abaixo." (pág 29)

Após a morte da amiga, Cody recebe uma missão. Os pais de Meg pedem que ela viaje até Tacoma, onde sua amiga fazia faculdade, e organize seus pertences. É durante essa viagem que Cody tem a oportunidade de ver de perto como era a vida de Meg e as pessoas que conviviam com ela. Ela descobre um outro lado de sua melhor amiga que ela não fazia ideia que existisse. Além de lidar com a culpa, Cody não tem como evitar um sentimento de traição. E quando ela achava que não podia ficar pior, Cody se depara com arquivos e mensagens criptografados no computador de Meg. O que ela queria esconder? O que estava por trás de tudo aquilo? 


"Não sei o que estou pensando. Mas tem algo de estranho nisso tudo, de suspeito. Em primeiro lugar, o fato de que Meg não era uma suicida. Tenho pensado muito nisso. "(pág. 71)

Cody também conhece Ben McCallister. Um "caso" que Meg teve antes de cometer suicídio. Logo Cody não vai com a cara dele pelo fato de, além de ser bonito, pinta de conquistador e guitarrista de uma banda, Ben fez Meg sofrer. E isso ela não podia tolerar. Só que ela não imaginava que também poderia acabar se apaixonando por ele. Tudo realmente estava desmoronando.

"De perto, Ben é muito mais bonito do que qualquer cara tem o direito de ser. Ele tem uma beleza que só posso imaginar que seja irlandesa: cabelo preto, pele que em uma garota teria sido chamada de porcelana, mas em um roqueiro é apenas perfeitamente pálida. Lábios vermelhos e carnudos. E os olhos. Meg tinha razão: parecem lentes de contato. "(pág. 31)

"- Eu sei como esses caras são. Vi como ele era com Meg: charmoso por fora, mas um puta babaca por dentro." (pág. 68)

É  nesse clima de mistério, paixão e redenção que é traçado a narrativa de "Eu estive aqui", o que me agradou muito como leitora. Para quem acha que encontrará romance nesse livro está enganado. Mas claro, há uma mensagem de amor muito bonita que nos faz refletir sobre o perdão e segundas chances. "Eu estive aqui" foi uma leitura que me prendeu completamente e que terminei em três dias, mas poderia ter terminado antes caso tivesse mais tempo. 


Por isso eu recomendo a leitura. Para quem gosta de um bom drama, mas sem toda aquela complexidade, além de uma narrativa leve e personagens fortes, vale a pela conferir "Eu estive aqui". Após essa leitura fiquei com mais vontade de acompanhar o trabalho da autora e já coloquei alguns livros dela na minha lista.

"E, mais uma vez, não consigo deixar de me perguntar: por que ela não veio a mim? Por que não foi a mim que pediu ajuda? (pág. 93)

É isso aí gente! Espero que tenham gostado da resenha! Bjs e até a próxima!


Ficha Técnica
Título Original: I Was Here
Título em português: Eu estive aqui
Autor: Gayle Forman
Editora: Arqueiro
Ano:2015
Páginas: 240
Gênero: Ficção Americana



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