domingo, 24 de julho de 2016

Resenha - A Sereia, de Kiera Cass

Sinopse
Anos atrás, Kahlen foi salva de um naufrágio pela própria Água. Para pagar sua dívida, a garota se tornou uma sereia e, durante cem anos, precisa usar sua voz para atrair as pessoas para se afogarem no mar. Kahlen está decidida a cumprir sua sentença à risca, até que ela conhece Akinli. Lindo, carinhoso e gentil, o garoto é tudo o que Kahlen sempre sonhou. Apesar de não poderem conversar — pois a voz da sereia é fatal —, logo surge uma conexão intensa entre os dois. É contra as regras se apaixonar por um humano, e se a Água descobrir, Kahlen será obrigada a abandonar Akinli para sempre. Mas pela primeira vez em muitos anos de obediência, ela está determinada a seguir seu coração.

Crítica
Como fã da série "A Seleção", de Kiera Cass, não poderia deixar de conferir a primeira obra da autora que, só após seu sucesso, foi lançada oficialmente no início de 2016. Em "A Sereia", Kiera nos apresenta uma história de amor verdadeiro capaz de vencer todos os obstáculos e ultrapassar limites, além é claro de um personagem inusitado por assim dizer: A Água. 


Neste primeiro romance da autora, Kiera nos leva a conhecer o universo da Água, que para manter o equilíbrio e evitar catástrofes naturais precisa se alimentar, de tempos em tempos, de naufrágios que tiram a vida de dezenas de seres humanos. 

Para isso ela conta com a ajuda de Sereias, jovens garotas que, à beira da morte, imploraram por suas vidas e acabaram sendo transformadas pela Água. Todas possuem uma sentença de cem anos a cumprir servindo-a, o que significa "cantar". É o canto das sereias que provoca os naufrágios que alimentam a Água.


 "Eu queria ser capaz de explicar como a interrupção de uma vida plena era melhor do que o prolongamento de uma vida vazia. (...). havia apenas algumas pessoas capazes de entender o que eu sentia, e mesmo assim eu não tinha certeza se entendiam." (pág. 20)

Após a sentença as sereias podem voltar a ser humanas novamente. Para a maioria das garotas isso representa uma segunda chance, mas para Kahlen, a protagonista da história, é mais como um grande fardo o qual ela tenta suportar a cada dia de sua longa vida. 

"Ela me disse para viver...
Não sabia como dizer a Ela que estar viva não era o mesmo que viver." (pág. 93)

Kahlen já cumpriu oitenta anos de sua sentença. Faltam apenas vinte. Mas, ao invés de se sentir feliz por isso ela se entristece cada vez mais e vive atormentada por seus próprios monstros. Diferente de suas irmãs, que aproveitavam ao máximo a vida que tem indo para baladas e conhecendo lugares diferentes. Enquanto Kahlen fica em casa relembrando as mortes que já provocou com seu canto de sereia. Ela nunca se acostumou com isso.

"-Já tive oitenta anos para me adaptar e nunca consegui. Estou com defeito?
(...)
_Kahlen, minha doce menina, você ainda é humana. Seu corpo pode ser imutável, mas sua alma ainda vive. Garanto que, no fundo, você ainda está ligada à humanidade.
Continuei a chorar e minhas lágrimas se msituravam às ondas dEla. (pág. 89)

Kahlen e suas irmãs, assim como todas as outras sereias que já existiram não podiam falar em público, somente entre si mesmas. Suas vozes são mortais e um único som levaria à morte qualquer pessoa que o escutasse. Por isso vivem isoladas e mudando de cidade constantemente para que possam ter o máximo de privacidade possível.


Kahlen não consegue entender como suas irmãs sereias tem uma vida normal apesar de suas condições. Elisabeth, a mais extrovertida de todas elas, já perdeu a conta de quantos garotos já namorou, enquanto Miaka investe em sua carreira de pintora. Kahlen só quer apenas uma coisa. Amar e ser amada. Mas quem iria amar verdadeiramente uma sereia? Como isso seria possível?

"Se expuséssemos nosso segredo, seríamos presas e talvez virássemos objeto de testes em laboratórios. Quando descobrissem que não podíamos ser destruídas - e se não conseguíssemos escapar -, acabaríamos passando literalmente uma eternidade em cárcere silencioso". (pág. 35)

Em uma dessas mudanças Kahlen conhece Akinli, um garoto simpático e com uma alegria contagiante. Mesmo não podendo falar, Kahlen consegue se comunicar com Akinli sem nenhuma dificuldade. Ele a compreendia e isso era o suficiente para ela. 


"Olhei bem para aquele garoto que eu sabia que mal conhecia. (...) Ele era tão terno, tão aberto, tão cheio de uma alegria simples... O que eu tinha feito para chamar a atenção dele, para que se interessasse não só pela minha aparência, mas também pelo o que eu pensava?" (pág. 76)

Mas desde o começo Kahlen sabia que aquilo não daria certo. Ela só estava alimentando um sentimento que só a faria sofrer. E ainda tinha a Água que não podia saber desse relacionamento. A Água não aceitava esposas, nem mães, por isso só transformava jovens garotas em sereias. Ela não queria que nada as prendesse à vida humana. 

"Parei para observar Akinli. o sorriso dele iluminava a multidão, e um carisma natural pairava ao redor dele. (...) Me senti tão boba. Na melhor das hipóteses, ele envelheceria e eu não, e depois, quando meu tempo de sereia chegasse ao fim, eu o esqueceria completamente." (pág. 81)


Mas é claro que afastar-se de Akinli não seria fácil. Ela estava apaixonada e nunca havia se sentido assim. Mas ainda faltava vinte anos para que sua sentença chegasse ao fim. Até lá Akinli já deveria estar casado com outra e até mesmo com filhos. Kahlen não poderia suportar essa ideia. 

"Não parava de dizer a mim mesma que era uma paixãozinha, uma coisa temporária e fugaz que passaria tão rápido quanto veio. Mas a saudade era tanta que até doía". (pág. 93)

É nesse lema de amor impossível que o enredo de "A Sereia" se desenrola. De vista não é o melhor romance escrito por Kiera. Ainda prefiro "A Seleção". Não achei uma história envolvente. Levei um tempinho (um mês) para terminar  a leitura. Por mais que eu quisesse não conseguia me prender à trama. Kahlen é uma protagonista forte, mas melancólica demais. A maior parte do tempo ela fica lamentando sua vida. É um sofrimento sem fim. É angustiante para quem ler.


Sem contar a ligação meio forçada entre Kahlen e Akinli. E ainda tem a Água, uma personagem difícil de compreender, cujos diálogos são cansativos. 

Enfim, com certeza não foi uma das melhores leituras que tive esse ano, mas foi bom ter conhecido melhor o trabalho da Kiera. "A Sereia" é o tipo de livro para quem é fã mesmo da autora. E para quem ainda não conhece o trabalho de Kiera recomendo que comece por a "A Seleção". 

Bjs e até a próxima!

"Eu não podia ficar para sempre.
Mas talvez pudesse ficar por um dia." (pág. 163)

"Apoiei a mão sobre a dele, comovida por seu lado humano, sua capacidade de cuidar dos outros apesar da própria dor e pela pontinha de sorriso que permanecia em seu rosto mesmo quando não havia motivos para sorrir." (pág. 178)


Ficha Técnica

Título Original: The Siren
Título em português: A Sereia
Autora: Kiera Cass
Páginas: 328
Ano: 2016
Gênero: Literatura Americana Infanto-Juvenil



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