Resenha: A Passagen, de Justin Cronin

Após relatos de que um grupo de pacientes terminais de câncer havia sido curado durante uma viagem ao interior de uma floresta sul-americana, uma equipe de cientistas parte rumo ao local em busca de uma cura para esse tipo de doença e também de outras enfermidades que podem levar a morte.

A pesquisa e financiada pelo governo através do exercito, cujas finalidades vão além de simplesmente prolongar o tempo de vida de uma pessoa. Eles passam a usar cobaias humanas: presidiários condenados ao corredor da morte. Doze são escolhidos para o experimento, além de uma menininha de seis anos, Amy Bellafonte, a Garota de Lugar Nenhum, cuja família a havia abandonado e que parece ser a única em que o vírus consegue reagir bem em seu organismo. Os demais acabam se transformando em terríveis criaturas com agilidade e forca sobrenaturais, seres vampíricos hipersensíveis a luz sedentos por sangue e carne humana e que possuem apenas um ponto fraco: o esterno.

Ate que então um acidente ocorre na base militar de pesquisa levando à fuga todas as cobaias. Um mar de dor e sofrimento começa a se alastrar, dizimando todos os seres humanos da face da terra. Em meio a todo o caos e carnificina, o agente do FBI Wolgast tenta proteger a pequena Amy do experimento malsucedido do exercito.

O tempo passa. Quase cem anos após o incidente na base cientifica militar, que extinguiu quase noventa por cento da humanidade, o cenário e de devastação.  Os poucos sobreviventes ainda lutam pela sobrevivência vivendo em pequenas colônias cercadas por altos muros e refletores em sua superfície. Mas o surgimento de uma garota que parece possuir os mesmos poderes vampíricos, exceto pela sede de sangue, pode mudar o rumo dos acontecimentos.

Trecho do livro “A Passagem” (pag. 220)

- É estranho – disse ele depois de um momento. Deu um suspiro profundo e esfregou a barba, passando o olhar pela sala estéril. – Tudo isso. Era isso... o que eu queria? Eu queria que houvesse um. Quando eu vi, quando eu soube o que eles estavam planejando, como tudo isso terminaria, eu quis que houvesse pelo menos um.

- O que você está falando? Onde está Sikes?

Por fim o estranho pareceu notá-lo. Olhou Wolgast atentamente, o rosto se contraindo de repente.

- Sykes? Ah, ele está morto. Prefiro pensar que estejam todos mortos, você não?

- O que você quer dizer com mortos?

- Mortos, falecidos, provavelmente aos pedaços. Pelo menos os que tiveram sorte. – Ele balançou levemente a cabeça com um ar mórbido de fascínio. – Você deveria ter visto, o modo como eles mergulhavam das árvores. Como morcegos. Realmente deveríamos ter previsto que isso um dia acabaria acontecendo.

(...)

- Infelizmente não há tempo. Temos que ir. Está tudo acabado, não é, Amy? – Ele olhou a menina adormecida e tocou gentilmente sua mãe. – Finalmente acabou.

Wolgast não aguentou mais.

- O que acabou?

Lear levantou o rosto. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- Tudo.

Critica

Bom, por onde começar? A Passagem foi, sem sombra de duvidas, um dos melhores livros que já li em toda a minha vida. Desde as primeiras paginas eu já me sentia como se fizesse parte de toda a historia.  Essa resenha foi, ate agora, a mais difícil que já fiz levando em consideração o carinho imenso que tenho pelo livro. Mas em primeiro lugar irei contar como soube da existência dessa obra.

Justin Cronin, autor de A Passagem

Eu estava na biblioteca publica aqui da minha cidade pesquisando algo sobre algum trabalho da faculdade. Como sempre faço fui à sessão de livros de ficção e me deparei com aquele monstrengo de livro, com mais de 800 paginas, com a capa praticamente idêntica ao de A Cabana. Fiquei curiosa. Li a sinopse e logo quis levar para casa, ate porque sou fascinada por historias vampíricas e apocalípticas. Não conhecia o autor e muito menos nem tinha noção do sucesso que aquele livro havia feito no mercado editorial.

Li as primeiras paginas no ônibus durante a volta para casa e depois já não conseguia parar de lê-lo. Passava madrugadas a fio extasiada com a historia e com os personagens do livro. Ate que eu terminei a leitura e senti um vazio instalando-se dentro de mim. Levei mais de uma semana para começar a ler outro livro.

A passagem e o tipo de historia contagiante, sedutora e muito bem escrita, apesar de não possuir originalidade no texto. Seu ponto chave é o enredo bem construído e personagens bem delineados e conflitantes.

O livro e dividido em duas partes: o antes e o depois do apocalipse. Na primeira parte Amy, a cobaia cujo organismo parece ser o único a reagir bem ao vírus, e Wolgast, o agente do FBI com a missão de recrutar cobaias para o experimento do exercito, são os personagens principais. E muito bonito poder acompanhar o quanto a relação entre os dois foi amadurecendo e se tornando num laco indestrutível como o de pai e filha. Na segunda parte, quase 100 anos após o apocalipse, personagens como Peter e Alicia tentam sobreviver em meio ao caos. Guerras, lutas, sangue e cenas de ação são os ingredientes que compõem essa segunda aventura.  

Essa divisão me fez refletir varias vezes em como o mundo havia mudado após o incidente. Lembrei-me que fim a mãe da pequena Amy havia levado. Das irmãs do orfanato onde Amy havia sido abandonada. Me fez ver também o quanto a vida humana e frágil, e que basta um acontecimento para mudar os rumos da historia. Todos os nossos sonhos, tudo o que havíamos construído se vão, evaporam, as vezes em questão de segundos.

A Passagem não e simplesmente um livro sobre vampiros, virais, dracks, fumaças, ou como quiser chama-los. E um livro que fala de fé, de esperança e principalmente de amor. E a luta pela sobrevivência humana em meio a um mundo apocalíptico.

A Passagem é o primeiro livro de uma trilogia. O segundo “Os Doze”, foi lançado no ano passado e o terceiro, “The city of mirrors”, ainda sem título nacional definido, está com previsão de lançamento ainda este ano.

Editora: Sextante

Autor: Justin Cronin

Paginas: 816

Literatura Estrangeira-Romance