quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Enquanto eu te esquecia, de Jennie Shortridge

"O que a memória apagou, o coração recorda"

Sinopse
Lucie Walker não se lembra de quem é ou como foi parar nas águas geladas da Baía de São Francisco. Encaminhada para uma clínica psiquiátrica, ela aguarda até que um homem chega afirmando ser seu noivo. Entretanto, com seu retorno para casa, essa mulher sem memória vai tomando conhecimento de sua personalidade antes do acidente, da pessoa controladora, fria e sem vida que era, e dos segredos da infância e da família, assim como da situação do noivado e dos mistérios que podem ter provocado o acidente.
Será que ela quer isso de volta? Será que essa nova Lucie conseguirá manter o amor por Grady, ou a oportunidade de recomeçar será sua salvação?
Intenso, franco e incrivelmente emocionante, Enquanto eu te esquecia é um livro delicado, que nos questiona sobre a maneira que vivemos e nos lembra que sempre temos uma nova chance de ser feliz.

Crítica
"Enquanto eu te esquecia" foi um livro que me surpreendeu, além de ter sido minha primeira compra online. É, acreditem, nunca havia comprado nada pela internet antes. O livro estava na promoção, a sinopse me chamou a atenção e então resolvi comprá-lo. Foi um tiro no escuro que no final das contas acabei acertando em cheio.

Jennie Shortridge é uma autora nova para mim. Nunca li nenhum de seus romances e muito menos havia ouvido falar dela. Por isso achei um pouco estranho a forma como ela estruturou a história, colocando os diálogos entre aspas e não com o travessão. O que deixaria a leitura cansativa se o enredo não fosse tão bom. Em pouco tempo a narrativa me seduziu e eu já me via torcendo pela protagonista. 



Falando em protagonista, Lucie Walker, uma mulher atraente de 39 anos, é a heroína desta história que começa com a mesma totalmente desorientada na praia da baía de São Francisco. Ela não sabe quem é e muito menos como foi parar ali. Alguns banhistas percebem que ela não está nada bem, afinal, já faz horas que ela não sai do mesmo lugar e parece estar congelando. Eles pedem ajuda e logo Lucie é levada para o hospital. 

"Ela tentou se virar para vê-lo, mas suas pernas pareciam sem reação. Não, estavam frias. Geladas. Mortas. Será que ela estava morta? Onde estava? Que lugar era aquele?" (pág. 09)

Lucie é diagnosticada com amnésia. Alguma coisa, um trauma, fez com que ela esquecesse de tudo. Ela consegue se lembrar de coisas triviais como "Quem é o atual presidente dos EUA", mas nada que se refira à ela mesma. Nem nome, nem profissão, nem parentes, de onde vinha, o que tinha acontecido, absolutamente nada. 



"Depois de três dias falando com médicos e policiais, a coisa finalmente se definira: estava sofrendo de amnésia. Não tinha absolutamente  nenhuma memória autobiográfica , nem no sentido geral (nome, profissão, número do seguro social), nem no sentido pessoal (Quem sou eu? De onde sou? O que me  aconteceu?)." (pág. 14)

Mas, poucos dias no hospital e Lucie é supreendida por um homem que diz ser seu noivo. Mas isso não era tudo. Ela não sabia que havia tido um "surto" e que ficara desaparecida por uma semana. Uma semana! O que ela havia feito durante todo esse tempo? Como havia chegado em São Francisco se ela era de Seattle? Como havia sobrevivido, já que quando foi encontrada não carregava nada consigo, muito menos dinheiro? 

"Então agora esse homem de Seattle estava vindo lá de longe até são Francisco para buscá-la, como se fosse uma mala perdida sem etiqueta de identificação. Tinha esquecido o nome dele. Greg? Garrett? Alguma coisa com G. Ela não achava que conhecia ninguém com um nome que começasse com G. Especialmente um noivo". (pág. 15)

Todas essas perguntam só fazem atiçar a curiosidade do leitor e tornar a história ainda mais intrigante. "Enquanto eu te esquecia" é narrada em primeira pessoa pelo ponto de vista de três personagens principais: Lucie, Grady (o noivo) e Hellen (a tia de Lucie e única parente viva).



Grady é apaixonante e irritante às vezes pelo seu jeito reservado de ser. Ele é filho de uma irlandesa com um índio americano. É o único homem entre seis irmãs, e sempre foi o protegido de todas elas, já que perdeu o pai quando criança. É descrito como moreno, alto e charmoso. Grady é o tipo de homem que guarda as emoções para si o que dificulta a adaptação de Lucie quando ela volta para casa. Para tentar protegê-la, ele acaba omitindo coisas dela o que gera muito atrito entre eles. 

"Lucie olhou no rosto dele. Viu inteligência, ternura nas linhas de expressão e vincos sutis nos cantos da boca. Sabia que queria confortá-la, mas parecia que era ele o ferido (...) Ela não o reconhecia de jeito nenhum, e, no entanto, havia alguma coisa que dizia que sim." (pág. 26)

Hellen é a única parente viva de Lucie e antes de tudo acontecer elas não se falavam mais. A amnésia de Lucie fez com que elas se reaproximassem e curassem as feridas do passado. Não simpatizei muito com  a personagem de Hellen. Achei ela meio esquisita. Acho que essa era mesmo a proposta da autora. 



"E essa era  a pior parte de tudo aquilo. Ela não sabia quem ela conhecia, ou se conhecia alguém. Não sabia de alguém a amava, contava com ela, ou sentia sua falta." (pág. 15)

Lucie é uma personagem bastante complexa e que possui um passado tenebroso, o qual ela passou a vida toda tentando evitar. Ela nunca conversou com ninguém sobre isso, nem mesmo com Grady. De alguma forma o que aconteceu à Lucie no passado fez com que ela se tornasse uma pessoa fria, sem amigos, viciada em trabalho e que sempre se refugiava em bens materiais. Uma mulher que vivia de aparências. 

"A senhora me conhece?
A  mulher endireitou o corpo para olhar para Lucie, os punhos na região lombar, enquanto se alongava. "Na verdade, não", respondeu. "Ninguém conhece você. Não é assim que prefere?"
"Não", respondeu Lucie. "Porque eu ia preferir assim?  (...) "eu era uma péssima pessoa?". (pág. 160)

O que torna Grady apaixonante é o simples fato de ele amar Lucie mesmo assim. Ele é louco por ela e faz tudo por ela. Agora imagina só: você namora uma pessoa há mais de cinco anos, estão prestes a se casar, os convites estão até prontos, e do nada, essa pessoa surta, foge e desaparece por uma semana, e quando é finalmente encontrada está com amnésia e não se lembra de nada. É uma situação totalmente desanimadora e desconfortável para ambas as partes. Sem contar que Lucie retorna totalmente diferente do que era. Agora ela é uma pessoa mais leve, compreensiva, atenciosa e menos materialista. O que, de certa forma, exige um esforço maior de Grady para aceitar essa nova Lucie. Agora são completamente estranhos um para o outro.



Todo o drama de Lucie que envolve seu passado traumático, a amnésia, a adaptação em sua nova vida, o relacionamento com Grady, só tornam o romance ainda mais envolvente. Confesso que, pelo título do livro, esperava um romance bem turbulento, mas como falei acima, a história me surpreendeu bastante. Só não curti muito o final que ficou em aberto. Depois de tudo que Lucie passou esperava um final mais redondinho, mas isso não desfavoreceu o enredo. 

"No entanto, tinha andado à procura de alguma coisa - até esse ponto ela sabia. Essa informação não impressionou os médicos como algo importante". (pág. 65)


"Enquanto eu te esquecia" é um romance que nos leva a refletir sobre como estamos levando nossas vidas e a prestar mais atenção no próximo, naquele que está ali do nosso lado em todos os momentos. A valorizar cada detalhe da vida e a aceitar o nosso passado, independente do que tenha acontecido, pois isso nos torna fortes e preparados para a próxima batalha. Por isso eu recomendo a leitura. Espero que se surpreendam assim como eu.

Beijos e até a próxima!

Ficha Técnica
Título original: Love water memory
Título em português: Enquanto eu te esquecia
Autor: Jennie Shortridge
Editora: Única
Ano: 2014
Páginas: 384
Gênero: Ficção norte-americana / Drama


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