quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Resenha - A Dança da Morte, de Stephen King


Sinopse
Após um erro de computador no Departamento de Defesa, um milhão de contatos casuais formam uma cadeia de morte: é assim que o mundo acaba. O que surge é um árido lugar, privado de suas instituições e esvaziado de 99% de sua população. Um lugar onde sobrevivente em pânico escolhem seus lados - ou são escolhidos por eles. Onde os bons se apoiam nos ombros frágeis de Mãe Abigail, com seus 108 anos de idade, e os piores pesadelos do mal estão incorporados em um indivíduo de poderes indivisíveis: Randall Flagg, o homem escuro. King criou uma história épica sobre o fim da civilização e a eterna batalha entre o bem e o mal. 

Crítica
A Dança da Morte é o quarto livro que Stephen King publicou e o primeiro que tive a oportunidade de ler. Lançado em 1978, o livro é dividido em três partes e ambientado na década de 80: a primeira ressalta a disseminação de um vírus mortal que, posteriormente, culminaria na morte de milhares de pessoas. A segunda parte narra a luta dos sobreviventes enquanto tentam se agrupar e constituir uma nova sociedade. A terceira e última relata o confronto final entre os dois grandes grupos formados na história.
Ler a Dança da Morte foi uma experiência incrível, e posso dizer que se deve ao fato da quantidade de páginas. Além de ter sido o meu primeiro romance do autor, foi também a leitura mais longa que eu já tinha feito. O resultado foi um apego ainda maior pelos personagens e pela trama em si.
A história começa em uma base secreta do exército dos Estados Unidos, onde um vírus mortal é criado para compor o arsenal de armas biológicas do País. Mas, um acidente acaba fazendo com que esse vírus vaze e se alastre por todo o território norte-americano em uma velocidade assustadora. As consequências são catastróficas. Em pouco mais de duas semanas, o vírus, batizado de “Capitão Viajante”, dizimou 99% da população dos EUA. Os que restaram tentam desesperadamente sobreviver em meio ao caos que se instalou sobre o País.


Não há mais energia elétrica, nem médicos, nem polícia, e o governo agora é inexistente. A única lei que existe é a dos mais fortes. Em meio a esse cenário, já não bastando ter que enfrentar a realidade de um mundo pós-apocalíptico, os poucos sobreviventes ainda tem que lidar com sonhos estranhos, que mais parecem premonições, além de terríveis pesadelos que os assolam durante a noite.
Os poucos sobreviventes acabam se dividindo em dois grandes grupos, os do bem e os do mal, de acordo com os sonhos que tiveram. Enquanto uns sonham com a doce e adorável Mãe Abagail, uma mulher de 108 anos de idade que mora em um casebre no Nebraska e que possui poderes sobrenaturais, fazendo-a atuar como guia espiritual, outros sofrem terríveis pesadelos com o tenebroso Randal Flagg, ou o Homem Escuro, um demônio dotado de poderes obscuros, cujo objetivo é dominar o mundo que ressurge após o apocalipse. O vilão também aparece em outros livros de King, como em a Torre Negra.
Essa divisão permeará os rumos da história. Os que escolherem seguir Mãe Abagail (o grupo do bem) acabam se concentrando na pequena cidade de Boulder, no Estado do Colorado, e se denominam Zona Franca. Seu objetivo é criar uma sociedade pacífica onde todos possam recomeçar suas vidas. Já os que escolheram por Flagg (o grupo do mal) se fixam em Las Vegas e visam uma sociedade bélica capaz de confrontar e vencer quem quiser se opor. A cada dia mais e mais sobreviventes se juntam em ambos os lados e novos personagens vão surgindo ao longo da história, e acabam tendo destaque na trama.


Mas, o destaque vai para os personagens principais, tanto os mocinhos quanto os vilões, que, à sua maneira, vão conquistando o leitor. No grupo dos mocinhos, além de Abagail Freemantle com seu jeito carismático e acolhedor de ser, temos Nick Andros (o meu preferido!), um jovem peregrino surdo mudo que impressiona a todos com sua história de vida.
Larry Underwood (o personagem que mais me identifiquei), um músico em ascensão que vive lutando contra seus demônios interiores. Ele acha que seus atos são guiados por puro egoísmo, mas há um senso de justiça muito grande dentro de si que ele mesmo não reconhece. Stuart Redmam é um ex-trabalhador de uma fábrica do interior do Estado do Texas. Ele é gentil, corajoso e possui espírito de liderança. Essas características o levarão a ser um dos principais líderes da Zona Franca. Glen Bateman é professor de sociologia e suas percepções sobre comunidade ajudará os novos moradores de Boulder a se estabelecer em sociedade. Ele é dono de Kojak, um cachorro esperto e amável. Frances Goldsmith é uma estudante universitária que se encontrava grávida de dois meses quando a epidemia se alastrou pelo País. Ela é romântica, sensível e muito bonita. Sua gravidez é uma incógnita e causa receio em todos na Zona Franca, pois ninguém sabe se o vírus é capaz de atingir o bebê, mesmo a mãe sendo imune. Tom Cullen, apesar dos problemas mentais, é um dos personagens mais adoráveis do livro. Ele é ingênuo e possui um coração de ouro.
Por fim temos Harold Lauder, um estudante do ensino médio. Ele é bastante inteligente, esperto e astucioso. Harold alimenta uma paixão secreta por Frances, e ao ver que Frannie jamais poderá corresponder, ele acaba nutrindo sentimentos ruins dentro de si.
Do lado de Flagg, além do próprio vilão que possui particularidades nada humanas e um senso de humor bastante sombrio, há Lloyd Henreid, que há época da epidemia estava preso por cometer inúmeros crimes, inclusive assassinato, foi salvo graças à Flagg. Lloyd é grato por isso e prometeu ser fiel ao Homem Escuro em qualquer circunstância. Donald Merwin Elbert, ou o Homem da Lata de Lixo, é um incendiário nato. Suas aspirações por fogo o tornam um dos principais trunfos de Flagg. 


A maestria de King ao escrever suas obras é nitidamente percebida na construção de seus personagens e diálogos que seriam difíceis de serem retratados em um livro, como por exemplo, as conversas entre Nick Andros e Tom Cullen, que por sinal são meus personagens preferidos. Como foi dito anteriormente Nick é surdo-mudo e Tom possui problemas mentais. Há até mesmo uma parte no livro em que Nick se pergunta como ele poderia estabelecer uma conversa viável com Tom. “Como um debilóide poderia entender o que um surdo-mudo quer dizer?”. Mas, Stephen utiliza-se de todos os atributos literários para que o leitor não se sinta perdido e não perca nenhum detalhe.
A coexistência entre as duas sociedades torna-se insustentável após um ataque à Zona Franca de Boulder. Tudo indica que o crime foi causado, indiretamente, pelo pessoal de Flagg. O comitê de Boulder decide, por fim, confrontar o grande vilão munido apenas de sua própria fé. 
O livro é repleto de aventura, fantasia, drama, distopia e uma pitada de romance. Impossível parar de ler apesar da quantidade de páginas. Em a Dança da Morte há um apego maior pelos personagens. Acredito que essa fidelidade para com os personagens faz com que o leitor se prenda do início ao fim à trama. A sensação de vazio ao término da leitura é inevitável. Poderia ter uma continuação contando se os personagens viveram felizes para sempre. Tá certo que se trata de romances do Stephen King onde finais felizes são utopias, mas não custa sonhar um pouco né?
Um ponto interessante que vale ressaltar é a crítica que Stephen faz ao governo dos EUA em momentos de crise. Em a Dança da Morte o exército tenta ao máximo encobrir a epidemia, ocasionada por um erro interno. Há repressão da população, censura à imprensa e até mesmo assassinato de quem se opuser ao governo.
Nesse cenário apocalíptico fantástico criado por King, a ambientação e a apresentação dos personagens, marcas registradas do autor, são os destaques da trama. Muitos leitores assustam-se com a quantidade de páginas, mas o conteúdo é o que importa. Não deixem de conferir A Dança da Morte, uma das obras mais aclamadas de Stephen King, principalmente se você ainda não conferiu os trabalhos do autor, ou somente assistiu às adaptações cinematográficas.
Então é isso, bjs e até a próxima!

Curiosidade
A Dança da Morte foi criada em alusão ao fenômeno O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien. Há muitas referências no romance de King, como o olho de Sauron na concepção do vilão Flagg, que também possui um olho que espiona tudo e todos. A ideia de um herói percorrer longas distâncias para atingir seus objetivos também são semelhanças à obra de Tolkien.
A primeira edição do livro foi publicada em 1978 e recebeu uma versão expandida em 1990, e uma adaptação para televisão em forma de minissérie dividida em quatro capítulos (A praga - The Plague; Os sonhos - The Dreams; a Traição - The Betrayal; e a Prontidão - The Stand), pela ABC (EUA), em 1994,e dirigida pelo cineasta Mick Garris.

Ficha Técnica
Título: A Dança da Morte
Título Original: The Stand
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Ano: 2013
Páginas: 1248
Gênero: Pós-apocalíptico

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